Varejo quer, mas falta tecido feito no Brasil
As varejistas de moda afirmam em peso que vão substituir parte dos produtos importados por peças fabricadas no Brasil, por conta da desvalorização do real e do aumento da tributação sobre importados, que encarecem as compras. Mas a tarefa tem se mostrado mais difícil que o esperado, devido à falta de produção em volume suficiente para atender à demanda. Segundo representantes do setor, os segmentos nos quais há mais escassez de produtos são de roupas de inverno e tecidos planos (sem elasticidade, como cetim, sarja, shantung e tricoline).
“No segmento de roupas de inverno não há nada. Em tecidos planos quase não há produção no país. Há uma perspectiva de recuperação do setor a partir de 2017 e não se vê a indústria têxtil investindo no parque produtivo”, afirmou Edmundo Lima, diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), entidade que representa as principais varejistas de vestuário do país, incluindo C&A, Forever 21, Hering, Marisa, Inbrands, Renner, Restoque, Riachuelo e Zara.
No ano passado, 86% das peças de vestuário vendidas no Brasil foram fabricadas localmente. Em redes multinacionais o índice chegava a 30%, aproximadamente, segundo a Abvtex. Companhias como Hering, Riachuelo e Renner anunciaram que planejam substituir parte de importados por peças de vestuário nacionais.
A Renner informou que pretende reduzir o índice de importados este ano de 30% para 25%. Haroldo Rodrigues, diretor de compras, disse que a companhia trabalha para ampliar o número de confecções fornecedoras para elevar o volume de peças fabricadas no Brasil. A preocupação é com a cadeia de tecidos planos. “Há poucos fornecedores no país. Para produção de moda masculina, camisaria e alfaiataria é mais difícil encontrar fornecedores. Em relação a malhas, há uma boa base de produção no Brasil”, acrescentou Rodrigues.
Segundo fontes do setor, a americana Forever 21, que entrou no país em 2014 só com itens importados, busca confecções locais, mas enfrenta dificuldades para substituir suas linhas importadas.
Essa dificuldade devese ao fato de o setor têxtil ter encolhido nos últimos anos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), a produção de vestuário encolheu 10% no Brasil em 2015, para 5,5 bilhões de peças. Em 2016, vai cair mais 1,8%, para 5,4 bilhões de peças. A produção têxtil recuou 14,5% no ano passado, para 1,9 milhão de toneladas, e a previsão é que cresça 9% em 2016, para 2,08 milhões de toneladas, com o aumento de pedidos para exportação e de encomendas para substituir parte dos produtos importados nas confecções brasileiras.
Para as importações, a Abit prevê uma queda de 21,1% em volume neste ano, para 890 mil toneladas. Em 2015, as importações caíram 17,4%, para R$ 1,13 milhão de toneladas.
Além da produção estar menor, as indústrias não investem o suficiente para ampliar a produção rapidamente. Segundo a Abit, o setor vai investir R$ 2,8 bilhões em 2016, ante R$ 2,5 bilhões em 2015, um incremento de 12%. No Por Cibelle Bouças | De São Paulo Empresas Últimas Lidas Comentadas Compartilhadas Novo ministro da Aviação Civil diz que PMDB tende a ficar no governo 16h04 Cade e MPFSP vão negociar delações e colaborações em conjunto 15h45 Cade aprova compra de fatia da BSF, subsidiária do Carrefour, por Itaú 14h15 Intenção de consumo das famílias diminui em março, aponta CNC 13h23 Ver todas as notícias Vídeos Entenda como evoluiu a crise automotiva no Brasil 09/03/2016 Valor 1000 – 2015 Versão online Veja quais são as 1000 maiores empresas e as campeãs em 26 setores e 5 regiões Clique aqui para consultar Análise Setorial ano passado, os investimentos encolheram 2,7%. O temor do varejo, diz Lima, é que o baixo investimento impeça o setor de atender à demanda das varejistas, e as varejistas se vejam obrigadas a continuar importando produtos a um dólar alto.
A Abvtex também alerta que as indústrias com oferta mais volumosa elevaram os preços acima da inflação. Segundo Lima, as indústrias de denim e algodão têm pedido reajustes de preços acima de 11%, um aumento que as varejistas não querem aceitar porque encontram dificuldades para elevar os preços dos produtos finais nas lojas. Rodrigues, da Renner, disse que os maiores aumentos de preços foram feitos por importadores de tecidos. Na área de tecelagem, os aumentos têm ficado “um pouco acima da inflação”, afirmou.
Do lado das confecções, Ronald Masijah, presidente do Sindivestuário, disse que não vê toda essa pressão de demanda vindo das varejistas. Segundo a entidade, a produção local de vestuário caiu 12,5% no primeiro bimestre ante o mesmo intervalo de 2015. “As grandes varejistas procuram fornecedores no Brasil, mas essa demanda nova chega para 300 confecções. Em um mercado de 30 mil confecções, isso não faz uma grande diferença”, afirmou
Masijah acrescentou que as confecções dependem do desempenho de vendas do segundo semestre para formar o capital de giro que será usado para manter a empresa nos seis meses seguintes. “Com o Natal pífio de 2015, as empresas entram descapitalizadas no primeiro semestre e com dificuldades para tocar o negócio”, destaca.
De acordo com o Sindivestuário, 2 mil confecções fecharam as portas no país em 2015. Só em São Paulo, foram 390 empresas fechadas. Para este ano, Masijah estima que pelo menos mais 2 mil confecções vão fechar as portas, com a perspectiva de o setor encerrar mais um ano com queda da ordem de 10%.
Não foram só as confecções que sucumbiram em 2015. Boa parte das varejistas de moda apresentaram dificuldades para manter os negócios em meio à recessão. Neste início de ano, dois grupos donos de marcas relevantes do varejo de moda pediram recuperação judicial: o GEP, dono das redes Cori, Luigi Bertolli, Emme e Offashion, franqueado exclusivo da marca americana GAP no Brasil; e a varejista de moda feminina Barred’s.
A Marisa fechou 12 lojas no fim do ano passado. A C&A informou que vai fechar 12 lojas no país em 2016. Algumas marcas internacionais também desistiram de competir no mercado brasileiro. A Hennes & Mauritz (H&M) chegou a negociar pontos comerciais para abrir lojas no Brasil, com capital de R$ 1,5 milhão, mas desistiu do plano.
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